9.10.17

Soberba, a cozinha portuguesa de Igor Martinho

Soberba, chef Igor Martinho

Podia ser adjectivo mas não é. Se a soberba do chef se faz substantivo é porque o orgulho e a altivez dos sabores da nossa terra atravessa todos os seus pratos e fica connosco ao longo da refeição. Soberba é nome de restaurante, o projecto do coração do chef Igor Martinho em Lisboa e (ainda) um dos segredos mais bem guardados da capital. Fora dos circuitos turísticos, este espaço luminoso e amplo perto de Entrecampos merece uma visita, mesmo que seja preciso alinhar planetas e agendas. Foi preciso deixar chegar as férias mas em boa hora nos organizámos finalmente e lá fomos jantar.

Contra todas as regras de quem conta uma história, que deve seguir em crescendo e culminar no desvendar do enredo, fica a revelação da preferência da noite: o prato assinatura do chef é tudo o que dizem (e mais). Neste bacalhau lascado com puré de grão, grelos salteados e amêndoas torradas escreve-se sucintamente a história de uma mão cheia de ingredientes muito portugueses e a combinação vencedora da sua cozinha, que é muito cuidada e cheia de pratos bonitos.

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Mas falemos das entradas, porque merecem também uma palavra de apreço. Abrem-se as hostilidades com o Estaladiço de alheira com compota de maçã e salada verde que é saboroso e bonito, sem ser surpreendente. Já o Queijo amanteigado de ovelha panado com avelã e chutney de framboesas e cebola roxa é de comer e repetir, uma e outra vez. Nos balanços de uma refeição conta sempre a companhia e o que fica é resultado de quem à volta da mesa contribui para a memória futura. Da noite resta pois a animada conversa que se fez de tudo e nada, entre gente que gosta muito de comida e não consegue parar de falar nela.

Desfeito de início o suspense sobre o predilecto do jantar, há que falar (por mérito deste) do prato de carne: uma macia e bem confeccionada Bochecha de vitela de comer à colher, puré de batata com açafrão e pêras bêbedas. Da graça de integrar num prato salgado, um que normalmente remete para a secção dos doces, fica a convicção que o tempo quente não se ajustou à bochecha e aos sabores mais outonais. Nota mental para voltar quando baixarem as temperaturas e o apelo da confort food se fizer sentir.

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Para a sobremesa o famoso pudim da avó Minica com sorbet de tangerina, que se chama assim não porque a receita seja da avó de Igor Martinho mas porque era a casa dela que ia buscar os ovos para o confeccionar. Com o chef sentado a explicar o prato e a contar a história, o pudim sedoso e rico fica ainda mais delicioso. Servido inteligentemente na companhia de um sorbet de sabor cítrico, este é um prato que não deve faltar em qualquer visita ao Soberba. Que é melhor que seja mais cedo que tarde.

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Soberba
Rua da Beneficência, 229D
Entrecampos
Lisboa